Dia da Consciência Negra. Do que estamos falando?

Consciência Negra

Algumas pessoas me perguntam, o porquê de celebrarmos  o dia da Consciência Negra e não termos o dia da Consciência branca. Na realidade essa é uma data pra reflexão e não para festejos, afinal  em “todos os demais dias  a consciência branca é celebrada, através de sua hegemonia nos espaço de poder e positividade”. O 20 de Novembro é  uma data pra reflexão acerca das desigualdades que estão  vergonhosamente presentes em nossa sociedade, visíveis a partir de marcadores raciais e sociais.  O Brasil teve uma politica escravista durante quase quatro séculos, período em que africanos e africanas foram sequestrados em seu continente de origem e trazidos para cá.  Ao fim desse período, devido à pressão da Inglaterra, a coroa portuguesa abole a escravidão no dia 13 de maio de 1888. O faz em um texto lacônico, onde se dizia que “naquela data se abolia toda forma de escravidão no Brasil.” A lei não contemplava minimamente qual o destino que teria aquele imenso contingente de pessoas traficadas e seus descendentes que no dia 14 de maio, foram jogados à própria sorte.

Ao mesmo tempo, se iniciava a politica de branqueamento, quando europeus receberam passagem de navio e outros incentivos para virem viver no Brasil. Essa politica tinha por finalidade, excluir gradativamente a presença negra em nosso pais, e substitui-la pelas pessoas de pele branca.  Essa exclusão se daria através miscigenação, da violência policial e outras formas de agressão por parte do Estado e também pela própria vulnerabilidade à qual estariam sujeitos negros e negras.

É dessa  matriz que surge o Brasil de hoje, com a divisão racial tão presente através das diferenças  que demarcam quem estará nos espaços de  poder, a ocupação territorial,  marcadores qualitativos de estética e beleza e até quem será considerado suspeito ou cidadão do bem. As pessoas não falam isso abertamente, mas policiais, porteiros de prédios,  os seguranças dos bancos e dos shoppings e as pessoas que mudam de calçada ou seguram as bolsas com mais força ao cruzar com outras nas ruas sabem muito bem fazer essa distinção. Á fim de diminuirmos essas diferenças que são consequências dessa história vergonhosa, que os Movimentos Sociais Negros, vêm lutando para a implementação de ações afirmativas, para que se possam corrigir tais distinções. Há quem critique as cotas raciais para ingresso nas universidades e postos de trabalho. Ora bolas!

Durante esses quatrocentos anos, os brancos podiam estudar e dessa forma ocupar os espaços de poder. Os negros eram proibidos por lei de frequentar as escolas. Isso não se constituía cotas raciais para os brancos?  Foram essas cotas, que garantiram esse lugar de privilégio racial aos brancos, sobre a qual falamos no inicio desse texto e por isso as considero justas e necessárias, ao menos até que esse abismo que separa as pessoas pela cor da pele seja diminuído.  Nenhuma pessoa branca que viva hoje, participou diretamente da escravidão negra no Brasil, mas seguramente, todas elas ainda se beneficiam dela.  O inverso disso também vale para as pessoas negras e o enfrentamento ao racismo não é um tema que deva ser debatido apenas pelas pessoas negras e sim por toda a sociedade, pois ela como um todo vive sobre as consequências dessa história.

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