Evite os grandes mercados, pela sua saúde e do meio ambiente

 

 

Existem aproximadamente 12.500 espécies de plantas com potencial comestível. Séculos atrás tinham milhares de variedades de milho, arroz, abóbora, tomates, batatas, que hoje em dia encontramos em locais muito específicos. Hoje, segundo a FAO, 90% do alimento mundial, são provenientes de 15 variedades. Muitas culturas que até 10 anos atrás ainda resistiam estão ameaçadas de extinção e no mesmo local onde 90% destas eram plantadas, deram lugar a alimentos transgênicos.

Avançamos para um mundo com mais alimentos, porém com menos biodiversidade. Essa perda da biodiversidade, possui consequências culturais (deixamos de consumir certos alimentos para entrar na monotonia alimentar), ecológicas (empobrecimento do solo e de animais polinizadores), sociais (má distribuição de terras com a expulsão dos povos tradicionais), desaparecimento de sabores e conhecimentos gastronômicos populares.

Muito do que comemos são provenientes do interesse do mercado. As políticas agrícolas atuais são industriais e intensivas que apostaram em algumas culturas comerciais e variedades uniformes que melhoraram a rentabilidade da produção. Por isso o milho é a base do alimento industrializado. Como Pollan diz, são muitos termos químicos que tentam mascaram o milho transgênico no que você come: amido modificado ou não modificado, xarope de glicose maltodextrina, frutose cristalina e ácido ascórbico, lecitina e dextrose, ácido lático e lisina, maltose e HFCS, MSG e polialcóois, cor caramelo e goma xantana, é tudo milho!

E falando na agricultura intensiva e industrial, também é importante decifrar essas palavras. A agricultura é intensiva porque explora os recursos naturais e rompem o equilíbrio do solo. Industrial porque é um modelo mecanizado com uso de agrotóxico. Sem falar que é “petrodependente”, como vimos na greve dos caminhoneiros, o modelo centralizado de produção de alimentos necessita de uma boa estrutura de transporte para distribuição de alimentos pelo Brasil e mais uso dos recursos naturais.

Então é nesse contexto alimentar que vivemos. Encontramos nos supermercados vários alimentos comestíveis parecidos com comida que ainda nos dão lição de nutrição dizendo que são enriquecidos com vitamina x, y, z, ômega 3, cálcio, fibras…

E aí, diante disso tudo o que fazer? Continuar a vida… Só que ir ao supermercado e perceber que não é tudo bem se torna um grande passo. Valorizar a biodiversidade e produção local, ir às feiras, comprar sem intermediário, direto de quem produz, conhecer as safras dos alimentos são medidas simples que fortalece a biodiversidade e ainda faz a gente economizar e pensar em nossa saúde.

 

Acredito em uma alimentação que exclua todos os derivados animais e que seja acessível e não prescinda de ultraprocessados. Interesso-me em compreender os processos políticos que envolve a alimentação e, para tanto, faço uso da antropologia da alimentação enquanto instrumento de análise. Minha caixa de ferramentas transita, no momento, nos saberes emergentes de lutas por uma vida digna e por uma agroecologia que integra a terra a quem nela produz e a cuida. Além do mais, o olhar político sobre o alimento faz compreender qual o nosso papel diante do desperdício, da fome, da degradação do meio ambiente, da vida animal e da humana.

Sou formada em nutrição pela UFPE (2008), tenho especialização em saúde indígena pela UNIFESP (2012), residência multiprofissional em atenção à saúde (2012) e mestrado em ciências pela USP (2017). Sempre gostei bastante de estudar e nesses anos acumulei vários cursos livres que me aperfeiçoaram profissionalmente.

Minha experiência, permeou na prática clínica em setores públicos, bem como espaços de gestão, pesquisa e atualmente de docência. Tenho atuado na atividade clínica voltada para atendimento para vegetarianos desde agosto de 2017 em São Paulo.

 

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